2022: Uma Encruzilhada Histórica

by | Oct 26, 2022

Source: Sky News

Este segundo turno da eleição 2022 no Brasil é um embate histórico entre visões de mundo. Entre concepções de vida e seus sistemas de valores. Você vai eleger (etimologia: escolher) em que mundo seria concebível viver.

Esta escolha diz – na verdade, grita – também sobre inúmeras lutas por reconhecimento. Para quem quiser saber mais, Axel Honneth e derivados. Todo tipo de gente que rala por um lugar ao sol gostaria de ser reconhecido. Agros e sertanejos se sentem valorizados. Policiais e militares têm voz de comando. Religiosos profetizam teocracia cristã.

Desejamos muito acreditar que o Messias está chegando para nos redimir. No entanto, o Bem não virá com Bolsonaro. Ele não é de Deus. Isso é um delírio, uma ilusão ou uma trapaça. Depende do seu estilo de funcionamento psíquico.

Bolsonaro é o tipo de cara que no fundo todos gostaríamos de ser. No fundo, ou no passado de nós, todos fomos um bebê narcisista que se via como o centro do mundo e acima da lei. Aliás, que lei? Nem sei o que é isso. Existe minha vontade de gozo e potência. Ponto. A duras penas, a alteridade e o corte da lei simbólica vão entrando na minha vida, na dolorida travessia edípica – e me mostra que a fantasia onipotente era pura ilusão. Mas às vezes não se alcança isso, e indivíduos e coletivos têm problemas com o contorno estruturante do limite.

De qualquer forma, um fundinho inconsciente pré-edípico pulsa em todos nós. Eu falo o que eu quero, eu desfalo o que eu quero, eu faço o que eu quero, porra. Você quer me contrariar? Mando matar. Você me põe na parede? Compro tudo e todos, e me blindo. Vai me interrogar? Sua feia, sua vergonha, não serve nem pra ser estuprada. Qual o problema? Morre aí. Qual é? Queria comer índio com banana. Enfim, tem uma bolsopedia organizada por cronologia e temáticas para maiores detalhes.

Para mascarar essas palavras, atos e omissões, que revelam a posição fora da lei, se usa uma retórica circular e randômica louvando os valores fetichizados do momento. Coisas como, ironicamente, congresso, quatro linhas da lei, liberdade, pátria, deus etc.

Bolsonaro goza acima de tudo e de todos. E por isso ainda votamos nele.

Por que ainda escolhemos alguém que quer estar acima de nós? Porque nos identificamos inconscientemente com essa montagem. Somos uma máquina identificatória a procurar modelos idealizados que nos digam quem somos e o que desejamos – e, afinal, o que devemos fazer.

E porque queremos ocupar ambas as posições dessa montagem. Quero estar acima de tudo. E, ao mesmo tempo, quero alguém que esteja acima de mim e me alivie do peso de ter que pensar e viver pela minha própria consciência. Se Bolsonaro e a ultradireita, com seu jogo autoritário de destruição do próprio jogo, chega e diz: isso é bom, uma parte de mim, a mais primitiva de todas, olha para o grande profeta e suplica: oh por favor. Como dizia Contardo Calligaris, em sua tese de doutorado, se desvela nossa “paixão de ser instrumento”.

Parece que a cada x décadas precisamos regredir a essa posição primária. Paradoxal? Sim. Mas não tanto. Porque a identificação sempre é dupla: nos identificamos com uma “montagem” e, no inconsciente, oscilamos como um pêndulo de uma posição à outra dos lugares estruturais da cena. Por exemplo, se você é o algoz, você é também aquele que apanha do algoz que existe em você. Se você é o masoquista, você é também o superego sádico que goza em cima do seu próprio ego masoquista.

Freud analisou o desenrolar desse funcionamento social numa fábula mítica à qual deu o nome de “Totem e tabu”. Linhas gerais: no início havia o pai todo poderoso do clã primitivo, que detinha o gozo absoluto sobre todas as coisas e pessoas, mulheres e filhos. Quando morria um desses poderosões -rei, imperador, autocrata, presidente iliberal (rs)- havia uma luta fratricida pelo seu legado. É só mergulhar em livros ou filmes, esse plot é sucesso.

Chegou um momento (antropo)lógico em que os filhos se deram conta de que esse esquema era muito sangrento. Tiveram então uma ideia (moderna): em vez de nos digladiar para ver quem vai ser o novo líder autoritário, vamos mudar de sistema. A gente mata esse pai. Ou melhor: a gente mata esse lugar todo-poderoso e partilha o poder entre nós. É o formato pós-edípico da lei simbólica que barra o gozo total (vulgarmente conhecido como demcracia). Uma parte da tribo faz a lei, outra executa e outra julga o jogo e os conflitos.

Seria lindo se funcionasse e a gente não ficasse toda hora se identificando com o bebê narcisista que quer gozar sozinho ou o bebê desamparado que quer servir a esse condutor autocrático.

Está parecendo que a gente ainda não elaborou muito bem tudo isso.

No fundo, a gente arruma um álibi e finge que está indignado porque alguém é muito ladrão ou porque a gente é muito moral e tem bons costumes, para poder se autorizar a desejar o líder descaradamente perverso. Aquele que goza acima de tudo e de todos como eu sonho todas as noites no escuro dos meus sonhos mais devassos.

No entanto, por mais impossível que pareça, apesar dessa profunda cisão, é preciso conversar mais e mais, entre todos nós.

Machos. Estou escutando que vocês querem potência e armas. E nada do fantasma de viado (fraqueza ou prazer). Mulher, sempre arrumada e submissa. Mas pode esquecer. Acabou esse mundo.

Mulheres. Não é preciso ter tanto medo de desagradar homem ou de mulher empoderada. Isso aliás pode ser muito sexy. Se não fosse a luta das mulheres e alguns homens pelo direito das mulheres, você seria até hoje analfabeta, estaria levando muito mais porrada (mesmo sendo branca e rica) e nem estaria votando, mesmo nas figuras absurdas que seu marido, seu amigo e seu pastor mandam você votar.

Barbie Fascista. Acorda!

Ricos. A tentação de se aliar com o poder fora-da-lei é imensa, mas sai muito mais caro no final. Refaça as contas.

Pobres. Bilhões de reais foram roubados de nós mesmos para a enxurrada de mentiras com as quais querem lavar nosso cérebro. Não caia nessas papagaiadas.

Brancos. Estamos nos últimos suspiros da narrativa de uma superioridade branca. Não vai dar pra lucrar muito mais tempo.

Negros. Leia o item “Pobres” e acrescente mais uma arroba de peso para carregar. O mito só vai te encurralar mais.

Héteros. Se a sua posição era normativa, hoje não cola mais. O desejo é mais complexo que isso. Família cristã feliz e funcional. Não é e nunca foi a norma.

Todas as outras letras do alfabeto. “Liberal” na economia então basta para você?

Indígenas. Aguentem firme. Sobrevivam.

Comedores de índios. Morram.

Crentes. Acredite no que você quiser. Suporte que tem gente que não acredita. Ser moral ou imoral não tem a ver com acreditar em deuses ou Jesus.

Crentes no demônio. Isso não existe. A igreja precisou inventar o diabo (para não falar de deus) como instrumento de dominação social. Inúmeros livros contam essa história.

Crentes e trabalhadores ameaçados. Minta. Eles podem te ameaçar mas não podem saber em quem você votou de fato.

Descrentes. Não desacredite nem desista. Isso é o que todo fascismo busca produzir.

Moralistas. Compartilho com você a ideia de que a moral é uma das grandes questões humanas. Vamos discutir isso de verdade. Micheques e Damares são espertas e sedutoras. Não entre na delas.

Pró-vida. Entendo o ideal da vida acima de tudo. Mas não funciona (já escrevi sobre isso neste espaço).

Pró-morte. Entendo o gozo da morte e sua sedução pulsional irresistível. Mas é crime.

Antivacinas. Lutar contra a ciência numa nostalgia naturalista é bobo. Além de ser uma roubada irresponsável para a sua vida e a minha.

Pró-ditadura. Ah se existisse o grande e mítico líder…

Anticorrupção. Eu também gostaria de acreditar que há ao-menos-um puro.

Anticomunistas. Faça-me o favor, uma venezuela está sendo tecida aqui.

Terraplanistas. Para de querer chamar atenção que de idiota o mundo já está cheio.

Milicianos. Vai rindo que quem ri por último ri melhor.

E o que mais se revelou nestas eleições 2022?

A colcha de retalhos Brasil.

Vejamos, no que poderia ser um passeio sob psicotrópicos imaginários, os mais votados personagens a nos representar. Sim, as ideais figuras identificatórias que colocamos no Congresso Nacional.

O senador mais votado do país, disparado (por SP), com 10.714.913 votos, foi um astronauta. Teve já a oportunidade de mostrar serviço no que poderia ser a sua área de expertise, ligada a pesquisa, tecnologia e inovação – áreas basais do capitalismo imaterial que é onde se joga o jogo pesado do capital atualmente. Ou você descobre novos produtos e processos ou você paga caro pra quem descobre. O que esse cara fez nessa direção? Nada. No entanto, a esperteza de quem o colocou na roda (esperteza indubitável, que, somada à desonestidade no jogo, talvez lhe tragam vitória dia 30) sabe muito bem jogar com o imaginário do pobre e inculto cidadão: um astronauta está no sonho imaginário de qualquer criança. Quem nunca desenhou avião e sonhou andar de tapete mágico e nave espacial para sair da enrascada realidade com a qual tomava cada vez mais contato e da qual queria cada vez mais fugir?

Com menos votos, mas ainda assim muita gente, tivemos um general: 2.593.294 votos (pelo RS). Esse general é vice-presidente do Brasil e, no momento, tem como principal missão sustentar um presidente que opera no limite da ilegalidade. Contra a sua vontade? Não. Pois, olha que coerência, agora que está com imunidade ampliada, já deu entrevista dizendo que temos que fazer uma reforma no Supremo. Ou seja, nos últimos anos foi se preparando uma narrativa de que o Judiciário é corrupto e privilegiado e que a mamata deve acabar. Relembrando, para quem não sabe ou está querendo não saber: a base da modernidade liberal é justamente quebrar a lógica autoritária. Como se faz isso? Como vimos, quebrando o poder, limitando o poder de um com o poder de outro. Essa foi a melhor ideia que tivemos e isso se chama democracia liberal moderna. É o princípio fundamental do jogo e por ora a melhor invenção. Dividimos o poder em três partes, que obedecem a uma certa lógica: quem faz as regras, quem executa as coisas de acordo com essas regras combinadas, quem julga se está todo mundo jogando direitinho. O que a galera mais avançada no processo de destruição do jogo democrático já descobriu é o seguinte: vamos vencer as eleições, minar a confiança nas instituições, começando pelos tribunais, vamos ganhar outra eleição, agora vamos mudar as regras dos tribunais, e aí fica fácil. A gente dá uma boa limitada nos parlamentos (finge que eles funcionam) e executa o que bem entender com os amigos. Detalhe basal: as forças armadas, legais e paralegais, adoram essa lógica e estarão conosco dando retaguarda, por vezes explícita. Os professores do curso avançado dessa estratégia geral, com táticas regionais customizadas são conhecidos: Rússia, Hungria, Venezuela, Turquia, Bielorrússia. Sim, o general deve ir fazer estágio na Venezuela, é mais pertinho.

Mas como assim? E o comunismo? Hahaha que comunismo, stupid! Esquece essa coisa atrasada de direita x esquerda. O negócio é liberal ou iliberal.

As narrativas (sempre ficcionais) de agora em diante você pode esquecer, é só retórica para implementar esse roteiro. Com a ajuda de outras figuras, justamente as outras que foram eleitas. Elas não fazem quase nada da função primária para a qual foram convocadas, servem prioritariamente para distrair a atenção (prestidigitação, nome técnico; a habilidade do mágico).

Por exemplo, com 2.384.331 votos, pelo RJ, um jogador de futebol. Muito conhecido, sobretudo por possuir a sem dúvida meritória arte de ficar bem posicionado esperando a galera fazer o trabalho pesado para ele receber a bola e meter na rede. Habilidade de carioca? Hum. Parentesco com a lógica da milícia? Humm.

Outro mágico ilusionista: com 1.953.188 votos, pelo PR, Senhoras e Senhores, o nosso justiceiro, o nosso capitão perseguidor de bandidos. Jogando o jogo e roubando levemente o jogo. A justiça parcialíssima. Também pelo PR, tivemos o mais votado deputado federal desse estranho estado, com quem ele fez dobradinha nessa tática.

Nosso Senado ainda conta agora com uma mulher que advoga mais pelos interesses de um feto no corpo de uma menina de 10 anos do que pelos interesses de uma mulher real, uma família real e dos humanos reais, como tinha a responsabilidade de fazer. E isso foi com 714.562 mentes do DF, microrregião com um dos PIBs que mais crescem no país.

Sobre a outra casa do nosso (colonialista, anacrônico e ineficaz) sistema bicameral, serei breve.

O deputado federal mais votado do país, com 1.492.047 votos, é um menino de 26 anos desconhecido por suas obras e conhecido por um discurso antivacina e antipetista. Como isso foi possível? Garoto da internet que centraliza a ira adolescente em pseudo-mudanças. A vitória da retórica vazia ops no caso assassina, mais uma vez. Isso mostra que ainda nos deixamos seduzir por subcelebs com o dom da palavra entusiasmada, nos templos contemporâneos que são as mídias sociais.

Com 1.001.472 votos temos aquele que defende os sem-teto e os miseráveis. Trabalha pelo outro, e lida com nossas mais generosas crenças na humanidade, num roteiro Robin Hood. Roteiro, diga-se de passagem, que é também a melhor ideia que tivemos para a desigualdade endêmica da civilização desde a acumulação primária da Revolução Neolítica. Afinal, o que é a parcela fiscal do conceito de Estado senão uma grande máquina de recolher uma vaquinha e distribuí-la segundo o filistino jogo de forças da vez? De cada um conforme sua potência, a cada um conforme sua necessidade. Quem dera estivéssemos à altura dessa máxima.

Com 946.244 votos, também por SP, reelegemos uma mulher que ficou famosa no processo de impeachment contra uma mulher. E que consegue a proeza de usar os métodos falsos do seu mentor e ser profundamente fiel a ele, Bolsonaro, aquele que cospe nas mulheres. Quase um milhão de votos, certamente vindos de muitas mulheres.

O terceiro filho do presidente foi um dos deputados federais mais votados do Brasil, embora tenha conseguido desta vez cerca de um terço dos seus votos de 2018. Está decaindo, mas um príncipe belo e poderoso, e que anda armado, tem lá seu poder de sedução, confessemos. Se a autocracia monárquica vencer, vai ser o primeiro na linha de sucessão?

Enfim, salvo uma ou outra exceção, o negócio foi ladeira abaixo, partindo da premissa inicial do pacto social moderno. Desvelou-se o baixíssimo nível de consciência do brasileiro, que vota apontando uma arma para si mesmo, no maior índice de voto suicida da história recente do país.

Você duvida, leitor?

Veja. Virou deputado (hello, esse anacronismo chamado imunidade parlamentar vai até quando mesmo?) o ministro do meio ambiente que destrói tanto o meio quanto o ambiente. Que é confessadamente bandido, com charme e argumento. Veja: foram 640.918 mentes humanas que conseguiram fazer isso.

Em média, 200 mil pessoas de SP votaram num pastor que tem um nome que combina bem com miliciano.

Outras 200 mil, dessa vez do RJ, fizeram o favor de votar no ministro da saúde que trabalhou pela Morte, pelo sufocamento e pela máfia das vacinas.

E outras 200 mil cabeças brasileiras conseguiram a façanha de reeleger (hello imunidade parlamentar, até quando?) a cara símbolo do corrompido Centrão, apelido do prostíbulo em que se vende a alma pelo prazer do corpo. No caso, esse cidadão vendeu umas 300 vezes a negação de se discutir o impeachment do presidente mais nefasto do Brasil. Pasmem, ele foi o deputado federal mais votado da história do seu estado, AL, e campeão de votos do Nordeste. Cambridge Analytica não faria melhor.

Com muito menos votos do que em sua primeira eleição, em 2010, mas ainda assim reeleito pela quarta vez, temos um palhaço.

E para fechar com chave de ouro esse instantâneo de nosso país: o pai de um estuprador e policial militar foi eleito, a irmã desse estuprador e policial militar foi eleita. Você acha que estou me repetindo? Não, a realidade está sendo repetitiva.

Continuamos colocando nossas vidas nas mãos de perversos escrotinhos e autoritários, “generais”, policiais, bandidos, pastores (rs), coniventes, cínicos e palhaços.

Com o que você se identifica para traçar a sua parte nesse espantalho?

Enfim, estamos numa encruzilhada.

Vocês podem ganhar esta eleição, mas já perderam a guerra. A história é irreversível e não adianta sonhar com um mundo que não existe mais. Daqui a 20 anos isso será evidente. Pense bem na sua aposta.

2022: A Historical Crossroad

By Maria Homem

The second round of the 2022 Brazilian elections is a historical clash between world views. Between conceptions of life and its value systems. You will elect which world it would be conceivable to live.

This choice also says—actually, screams—much about countless battles for recognition. For whomever wants to know more: Laclau, Axel Honneth and such. All sorts of people who are grinding would like to be recognized. Agros and sertanejos—people from different occupations and regionsfeel valued. Police officers and military officials have word of command. Religious individuals prophesy Christian theocracy.

We really wish to believe that the Messiah is coming to redeem us. However, Good will not come with Bolsonaro. He is not of God. This is a delirium, an illusion or a scam. It depends on your style of psychic functioning.

As impossible as it seems, in spite of this profound split, it is necessary to talk more and more, among all of us. Thus, here I draft these poorly drawn lines.

Males. I hear you want power and weapons. And no phantoms of “faggots”  (symbolizing either weakness or unbridled pleasure”. Women, always dressed up and submissive. But forget about it. This world is over.

Women. There’s no need to be so scared of displeasing men, or of empowered women. This can, by the way, be really sexy. If it weren’t for the struggle of women (and some men) for women’s rights, you would still be illiterate, getting much more beaten up (even if you’re white and rich), and wouldn’t even be voting, even for the absurd characters for whom who your husband, your friend and your pastor tell you to vote.

Fascist Barbie. Wake up!

The rich. The temptation to ally with unlawful power is huge, but it turns out to be much more expensive in the end.

The poor. Billions of reais were stolen from us for the downpour of lies they want to brainwash us with. Don’t fall for this cacophony.

White people. We’re in the very last breath of the narrative of white superiority. You won’t be able to profit off that for long anymore.

Black people. Read the “the Poor” item and add another bushel of weight to carry. The myth will only corner you more.

Straight people. If you held a heteronormative stance before, that won’t stick anymore. Desire is more complex than that. Happy, functional Christian family. That’s not and has never been the norm.

All other letters of the alphabet. Is only being economically “liberal” enough for you?

Indigenous people. Hang in there. Survive.

Religious believers. Believe in whatever you want. Accepy that some people don’t believe what you do. Being moral or immoral doesn’t have to do with believing in gods or Jesus.

Believers in the devil. That doesn’t exist. The church had to make the devil up (not to mention God) as an instrument of social domination. Countless books tell this story.

Threatened believers and workers. Lie. They can threaten you, but they can’t know who you truly voted for.

Disbelievers. Don’t stop believing nor give up. This is what all fascism seeks to produce.

Moralists. I share with you the idea that moral is one of the great human questions. Let’s actually discuss this. Micheques and Damares are clever and seductive. Don’t fall for their trap.

Pro-life. I understand the principle of life above all. But it doesn’t work in practice.

Pro-death. I understand the appeal of death and its pulsing irresistible seduction. But it’s a crime.

Anti-vaxxers. Fighting against science in a naturalist nostalgia is foolish. Besides being a pitfall for both your life and mine.

Pro-dictatorship. Oh, if the great and mythical leader existed…

Anti-corruption. I’d also like to believe that there’s at least a single pure one.

Anti-communists. Do me a favor, a Venezuela is being woven here.

Flat-earthers. Stop trying to get attention because the world is already full of idiots.

Militants. Keep on laughing because who laughs last laughs best.

How did we get to this patchwork quilt called Brazil?

Bolsonaro is the kind of guy who, deep down, we’d all like to be. Deep down, or once in our past, we were all a narcissist baby who saw themselves as the center of the world and above the law. By the way, which law? I don’t even know what that is. Only my will for enjoyment and power. Period. Painstakingly, the alterity and the cut of symbolic law enter my life, in the painful oedipal crossing—and show me that the omnipotent fantasy was pure illusion. But sometimes this point is not reached, and individuals and collectives have issues with the structuring outline of limitation.

In any way, an unconscious pre-oedipal remnant pulses in all of us. I say what I want, I unsay what I want, I do what I want. Are you contradicting me? I’ll have you killed. Are you putting me against the wall? I’ll buy everything and everyone and shield myself….

To mask these words, actions and omissions, which reveal the outlaw position, a circular and random rhetoric is used, worshipping trendy fetiches. Things like, ironically, the congress, the law, freedom, homeland, God, etc.

Bolsonaro messes over everything and everyone. And for that, we still vote for him.

Why do we still choose someone who wants to be above us? Because we unconsciously identify with this setup. We are an identifying machine looking for idealized models telling us who we are and what we desire—and, after all, what we should do.

And because we wish to occupy both the positions of this setup. I want to be above all. And, simultaneously, I want someone to stay above me and save me from the weight of thinking and living for myself. If Bolsonaro and the ultraright, with their authoritarian game of destroying the game itself, come and say: this is a good, a part of me, the most primitive of all, looks at the great prophet and cries: oh please. As Contardo Calligaris stated in his Ph.D. thesis, our “passion of being an instrument” unravels.

It feels like every n decades we need to regress to such a primary position. Paradoxical? Yes. But not really. Because identification is always double: we identify with one “setup “and, unconsciously, oscillate like a pendulum from one position to the other structure places in the scene. For example, if you are the tormentor, you are also who gets beaten up by the tormentor who lives within you. If you are the masochist, you are also the sadist superego that ejaculates on top of your own masochistic ego.

Freud analyzed the development of this social structure in a mythical fable named “Totem and taboo.” It runs along the lines of: in the beginning, there was the almighty father of the primitive clan, who had absolute enjoyment over everything and everyone, women and children. Whenever one of these all-powerful individuals—king, emperor, autocrat, illiberal president (laughs)—died, a fratricidal fight for his legacy would take place. Just dive into books and movies and you’ll see how successful this plot is.

Eventually, it came the (anthropo)logical time when the sons realized that was a very bloody scheme. They then had a (modern) idea: instead of killing each other to see who’d become the new authoritarian leader, let’s change systems and kill the father. Or even better: we’ll kill this almighty position and share the power among us. It’s the post-oedipal format of symbolic law that halts total enjoyment—vulgarly known as democracy. One part of the tribe makes the law, another executes it, and the other judges the game and the conflicts.

It’d be beautiful if that worked and we stopped identifying ourselves all the time with the narcissistic baby who wants everything to himself or the helpless baby who wants to serve that autocratic conductor.

It looks like we haven’t really elaborated this through yet.

Deep down, we’ll find an alibi and pretend we’re outraged because someone is a robber or because we’re too moral and have such good customs, just so that we can authorize ourselves to desire the shameless perverse leader. The one who messes over everything (or in the more cernacular, shits on everything) and everyone just like I dream of every night in the darkness of my most whoremonger dreams.

Anyway, we’re at a crossroad.

You may win this election, but you already lost the war. History is irreversible and it’s not worth it to dream of a world that doesn’t exist anymore. In 20 years, this will be clear. Think thoroughly about your bet.

Maria Homem é psicanalista e ensaísta, com pós-graduação pela Universidade de Paris 8 e FFLCH/USP. É Associate no DRCLAS e autora de “Lupa da Alma” e “Coisa de Menina?”, entre outros. (mariahomem.com; @maria.homem)

Maria Homem is a psychoanalyst and essayist, with postgraduate degrees from the University of Paris 8 and FFLCH/USP. She is a DRCLAS Associate and has authored “Lupa da Alma” and “Coisa de Menina?”, among others. (mariahomem.com; @maria.homem)

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I first arrived in Latin America in 1997, and since then, I’ve been involved in education and the development of leadership and governance issues in the region. During these 27 years—12 of them from Spain—I have had the opportunity to interact with leaders from the region, the private and public sectors, multinationals and small and medium-sized enterprises, and various industries.

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